Blue Train, o mais chique da África

Sempre achei viagem de trem algo charmoso e interessante. Gosto desse ritmo lento e das paisagens que vão passando na frente das janelas grandes. Durante a minha viagem pela África eu tive muita sorte, prova disso foi ter fechado esses 5 meses de aventura com uma jornada no majestoso Blue Train, um dos mais luxuosos do mundo.

Fiz uma viagem de 27 horas, por um trajeto de 1600 quilômetros, da Cidade do Cabo até Pretória, a capital da África do Sul. Imaginem um trem com serviço cinco estrelas, um mordomo para cada vagão, comida gourmet, talheres de prata, sistema all inclusive e cabines até mesmo com banheiras! Ahan, é isso mesmo.

Foto: Divulgação
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Como o negócio era chique mesmo, no começo fiquei com receio de que não me deixassem entrar com a minha mochila, mas não tive nenhum problema. Quando cheguei na sala de embarque da estação de Cape Town, minha mochila foi etiquetada e recebida com todo o carinho. Antes do embarque, ficamos em uma sala vip onde nos serviram bebida e alguns petiscos.

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A saída estava marcada para às 8h30, mas o trem teve um pequeno atraso e acabamos partindo às 9h.

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Na minha cabine, um prato de frutas me deu as boas-vindas. Dois sofás, uma mesinha e a internet wifi foram meus companheiros de viagem. Tinha também uma tv, mas eu nem dei bola pra ela.

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Mal o trem partiu e lá fui eu para o banheiro para ver se era igual ao que eu tinha visto nos folders; azulejos de mármore, detalhes dourados nas torneiras e até o papel higiênico tinha uma etiqueta com a logomarca do trem. Na minha cabine não tinha banheira, mas as luxury têm.

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Foto: Divulgação
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Logo depois apareceu um senhor com luvas brancas e uniforme azul para avisar que ele seria meu “mordomo” durante a viagem, e que se eu precisasse de qualquer coisa, era só ligar pra ele pelo telefone da cabine. Wow!

O trem começou a se mover e a Table Mountain foi ficando para trás. Aos poucos, vinhedos, paisagens desérticas e até mesmo alguns animais, como avestruzes e zebras foram se revezando pela janela. Parecia um filme em slow motion. Não é à toa que o slogan do Blue Train é “A window to the soul of South Africa”.

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Depois de ter feito o reconhecimento da área, fui conhecer os outros vagões. Tem uma ala para fumadores, o club car; outra para petiscos e bebidas; dois para o restaurante; e lá no fundo o que eu mais gostei, o Observatory, com janelas enormes. Gostei de ficar sentada ali vendo o trem passar pelo trilho. Ah, também tem uma loja de joias lá dentro, que vende várias peças com tanzanite. Essa pedra em tons de azul, mais rara que o diamante, é a mais famosa e preciosa da Tanzânia. Ela só é encontrada perto do Monte Kilimanjaro.

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Sabem que eu pensei que o ambiente no trem ia ser assim meio esnobe, mas fiquei surpresa ao ver que os outros viajantes eram bem descontraídos e tranquilos. A única exigência é que durante o jantar os homens vistam terno e gravata e as mulheres, roupa de festa. Como eu tinha acabado de vir de um voluntariado de 4 meses em Moçambique, vocês podem imaginar que na minha mochila não tinha nada muito luxuoso, né? Mas em Cape Town tive a sorte de encontrar uma costureira muito simpática do Congo, que fez um vestido de capulana pra mim, de um dia para o outro. Vejam que lindo que ficou!

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Voltanto a comida, como sou gulosa, confesso que a hora das refeições eram as mais esperadas pela minha pessoa. O serviço é impecável; talheres de prata, louça com o emblema do trem e garçons muito atenciosos. Eu experimentei escargot com molho de curry, pato com ameixas e também carneiro. De sobremesa, adorei as peras perfumadas com canela e vinho. E como se isso fosse pouco, tudo vem acompanhado de uma seleta carta de vinhos sul-africanos premiados.

Quando voltei pra cabine para dormir, encontrei um quarto. Os sofás viraram camas muito confortáveis, com direito a edredom de penas, lençóis de puro algodão e roupão branco. Fui dormir com o balanço do trem, uma sensação parecida com aquela de estar num barco, mas essa foi um pouco mais mexida. Fiquei sabendo que o Blue Train tem um sistema de amortecedores de última geração e que nunca passa de 90 quilômetros por hora, mas mesmo assim eu sentia aquela chacoalhada de leve, mais ainda quando deitei. E não era efeito do vinho não, hein?

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Durante o trajeto, o trem faz algumas paradas, mas não dá pra descer. São só pra trocar o maquinista e carregar água. No dia seguinte, o clima era de descontração e como os passageiros já se conheciam, alguns puxavam conversa. Conheci um casal de indianos que estava de lua-de-mel e outro sul-africano, que comemorava 30 anos de casamento.

Foto: Divulgação
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No café da manhã, gostei de tomar meu chazinho, enquanto observava como a paisagem ia mudando. Como já estávamos nos aproximando de Pretória, os arredores da grande cidade e parte da pobreza do subúrbio foram passando pela minha janela. Fiquei pensando no contraste dessa dura realidade com a opulência do interior dentro do trem.

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Famosos
Depois, aproveitei para tirar mais algumas fotos e conversar um pouco com o gerente. Ele me contou que em 1997, quando o Blue Train foi relançado, Nelson Mandela fez essa viagem. Ele me disse que teve a honra de ter sido seu mordomo. “Mandela é bem simples e muito atencioso. Lembro que cheguei na sua cabine de manhã e a cama já estava arrumada. Ele mesmo tinha feito. Mandela é um pessoa fora do comum”, lembrou.

Perto do meio-dia ouvi o anúncio de que a gente estava se aproximando do destino final. Hora de fechar a bagagem e voltar para a realidade de mochileira aventureira. A experiência foi bacana, mas como fiz a viagem a trabalho, acabei indo sozinha. E em alguns momentos me senti entediada. Acho que aqueles que estavam acompanhados, com certeza se divertiram mais do que eu.

Como vocês podem imaginar, a passagem do Blue Train é bem salgadinha. Em temporada baixa custa cerca de US$1300 por pessoa, mas de vez em quando eles colocam algumas promoções para o segundo passageiro ou oferecem uma noite de cortesia em algum hotel da Cidade do Cabo. Para ver os preços e os dias de viagem, cliquem aqui.

Mas há uma luz no fim do túnel, existem outros trens mais econômicos que fazem exatamente o mesmo trajeto. O Shosholoza Meyl é a linha normal de trem África do Sul, que faz várias rotas, inclusive Cape Town-Pretória e vice-versa. E a outra opção é viajar com este, que também é da Shosholoza, mas oferece um serviço de primeira classe.

O seat 61 é um site bem bacana  especializado em viagens de trens. Ali vocês podem encontrar mais detalhes sobre essa e outras viagens pelo mundo afora.

Eu fiz essa viagem a convite do Blue Train.

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10 Comments

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  1. says: Lucila

    Oi Ricardo, no fim do post tem outras empresas que menciono que fazem o mesmo trajeto cobrando menos. Obviamente que o luxo não é o mesmo, mas acredito que a experiência também seja bacana. Abraços.

  2. says: Ricardo Macedo

    Lucila, em fevereiro proximo estou indo à Africa do Sul. Blue train nao cabe no orcamento. Voce sabe o valor de um outro trem, que va de Pretoria à Cidade do Cabo?

  3. says: Marcus Vinicius

    Muito obrigado pelos esclarecimentos Lucila! Vamos planejar com calma pra assim que possível realizar esse sonho haha abraços!!

  4. says: Lucila

    Oi Marcus. Que bom que gostou do post. Quanto a bagagem que você pode levar, pode ser mala sim, com certeza. Eu estava de mochila porque vinha de uma viagem longa pela África, mas a maioria das pessoas levava malas. O trem é tão chique que você deixa a sua mala na estação e só vai vê-la de novo no camarote dentro do trem. Um abraço e tomara que você curta muito essa viagem!

  5. says: Marcus Vinicius

    Olá, boa tarde! Estamos planejando uma viagem à Africa do Sul e gostei muito desta oportunidade, lindo demais este trem. Mas me tire uma dúvida, você foi de mochila, mas eu provavelmente irei viajar com malas, possivelmente 2, uma para cada hóspede. O pessoal costuma se hospedar com malas? Minha dúvida é justamente esta, imagina me programar e chegar na hora não posso embarcar com as malas?! Obrigado pelo post, ótimo e super esclarecedor e desde já à resposta.

  6. says: Lucila

    Eduardo, nunca é tarde para fazer. Garaaaaanto que a experiência é muito bacana. Abraços.

  7. Lucila, a dúvida que eu fiquei é se o valor é alto, não compensa pegar um avião? Além de mais barato, seria menos cansativo, não?

  8. says: Eduardo Bueno

    Bacana demais. Quando estava em Moçambique tive vontade de fazer esta viagem, mas nunca tive a oportunidade. Quem sabe no futuro? 🙂