[dropcap letter=”Q”]uando viajo, uma das coisas que mais gosto é de me emocionar. Pode ser com uma paisagem, com uma comida, as vezes é com um lugar, com uma pessoa, com um projeto, etc. E quando isso acontece eu me sinto simplesmente feliz. Em Granada, na Nicarágua, foi assim. Caminhando pelas ruas dessa pitoresca cidade, dei de cara com uma casa modesta, mas com um pátio grande. Na porta, um cartaz onde estava escrito, Café de las Sonrisas.
Quando entrei ali percebi algo diferente, nas paredes o alfabeto surdo-mudo, nas mesas umas pequenas fichinhas coloridas com imagens de sal, conta e ajuda, e no final do corredor, três jovens garçons sorridentes.
Há 10 anos um espanhol chegou em Granada e deu de cara com uma triste realidade, muitos meninos e meninas surdos e mudos que não sabiam ler nem escrever. Mas Antonio não ficou de braços cruzados. Ele juntou forças, um pouco de dinheiro seu e de alguns amigos e decidiu que ia tentar mudar o futuro desses jovens. ¨Todos os seres humanos são capazes. É só questão de ensinar e de dar uma oportunidade a cada um deles¨, diz calmamente Antonio enquanto me explica sobre o projeto.
Hoje o Café de las Sonrisas é o lar de oito crianças nicaraguenses que foram adotadas por Antonio e de uma dezena de jovens que tem ali um trabalho, uma profissão e uma oportunidade de mostrar as suas capacidades.
Enquanto eu escolhia se ia tomar suco de abacaxi ou de mamão, eu olhava para as figuras na parede para aprender a dizer obrigado com gestos. Quando a Siomara se aproximou da nossa mesa eu apontei no cardápio, suco de abacaxi e uma panqueca com banana, e antes que ela fosse embora eu consegui fazer o gesto de obrigada. Ela sorriu e alguns minutos depois eu já estava saboreando o meu café da manhã.
¨Todas as pessoas que atendem no Café de las Sonrisas são surdas-mudas. Algumas de nascença e outras por causa de algum remédio mal receitado durante a sua infância aqui na Nicarágua¨, conta Antonio. Mas o projeto desse exemplo de homem não para por aí. Ele também conseguiu montar um pequeno ateliê de redes artesanais e uma loja ao lado, que vende as belas e coloridas redes feitas pelos jovens que aprenderam ali uma nova profissão.
Passei três dias em Granada e em todos fui tomar café da manhã no mesmo lugar. Além de obrigado, também aprendi a dizer com gestos; eu ainda tenho esperança na humanidade.
Se você for a Granada, visite o Café de las Sonrisas que fica a quatro quarteirões da praça principal, e veja com seus próprios olhos esses momentos em que palavras não são capazes de descrever uma emoção.
Obs. tive que pegar fotos ¨emprestadas¨ de outros sites porque apaguei todas as que tirei com o celular uns dias depois de sair da Nicarágua 🙁