Pelo Caminho de Santiago

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Suzana Ourique, aventureira que já fez o caminho 7 vezes

Para fazer exercício, por uma razão mais espiritual ou em busca de autoconhecimento. Seja qual for o motivo, a tradição medieval de percorrer parte ou todo o Caminho de Santiago vem ganhando cada vez mais adeptos.

Essa famosa rota de peregrinação, que é Patrimônio da Humanidade, a cada dia recebe mais visitantes. Existem vários caminhos que levam até a cidade espanhola de Santiago de Compostela. O mais conhecido é o francês, tem outro que vai desde Portugal (parte de Braga e Porto), também tem o caminho inglês (que parte de La Coruña), entre tantos outros.

A jornalista e blogueira Suzana Ourique, autora do blog That Good Trip, é uma veterana peregrina. Essa super viajante já fez o caminho nada menos do que sete vezes. Da última vez ela percorreu 880km a pé durante 36 dias. “É uma experiência muito forte e intensa, na qual os ânimos ficam à flor da pele”, confessa.

Nesta entrevista ao Viagem Cult, a Su que é uma amiga minha muito querida, uma garota cheia de energia conta por que escolheu esse destino tantas vezes, diz quanto gastou por dia, como foi a preparação, quais são os lugares mais bonitos para visitar, entre outras dicas preciosas. Uma mão na roda pra quem está pensando em encarar essa aventura.

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Quanto você caminhou cada vez?
A primeira vez percorri 200 Km, em 2009; depois foram 80 km, em 2011; logo caminhei 130 km, em 2013; e da última vez, em 2014, fiz todo o Caminho de Santiago, foram 880 km. Todas as vezes percorri o Caminho Francês.

O que te motivou?
O caminho é uma maneira de descansar a mente, fazer exercício físico, visitar lugares lindos onde só se chega caminhando, e conhecer pessoas do mundo inteiro. Você nunca tem a chance de estar tanto tempo em contato com a natureza como lá. Além disso, há uma troca intensa com as outras pessoas. Você sempre volta com amigos e ideias novas pra continuar na luta diária depois de voltar ao “mundo normal”.

Você acha que o Caminho de Santiago é algo espiritual, um desafio ou um passeio pra fazer exercício?
Cada um tem seus motivos para fazer o caminho. Tem gente que vai pra emagrecer, outros vão por motivos religiosos, mas entre todos, o caminho é uma jornada, sem dúvida, espiritual.

Ele é muito duro, muitas vezes doloroso. É impossível não contar com a ajuda de um ser maior que nos guia, nos apresenta as pessoas certas nos momentos certos, nos consola nas missas de peregrinos e ajuda a curar as dores nos joelhos, nas pernas, nas costas e nos pés.

A tua última aventura foi percorrer o caminho todo. O que foi diferente dessa vez?
Fiz o caminho inteiro, de Saint Jean Pied de Port a Finisterra. Foram 880 Km em 36 dias. É diferente fazer ele inteiro. A relação com o teu corpo e mente é diferente. Você tem que guardar energia se o dia seguinte for mais longo, tem que cuidar muito bem dos pés e pernas para que as bolhas não te impeçam de avançar, etc.

Quando você faz trechos mais curtos, pode cansar sem que isso seja um problema, porque depois de uns dias você já vai estar em casa de novo. E você encontra mais ou menos as mesmas pessoas todos os dias durante um mês, o que estreita laços e faz com que as conversas sejam mais profundas.

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Por que sempre o Caminho Francês?
Até agora só fiz esse, que é o mais tradicional, mais antigo e estruturado. Queria trilhá-lo “de cabo a rabo”. Já estou pronta pra conhecer outros nas próximas vezes. Quero muito fazer o Caminho do Norte, a Via de la Plata e o Caminho Português.

Dá pra fazer o trajeto caminhando, de bicicleta e até a cavalo, né?
Dá pra ir de bicicleta e alguns trechos mais íngremes podem ser feitos a cavalo, mas quase ninguém faz o caminho inteiro assim. Já vi gente acompanhada de um burro e outros em cadeira de rodas, na companhia de um amigo e ajudada por outros peregrinos em muitos trechos.

Esse é um passeio pra fazer com amigos, familiares ou sozinho?
Dá pra fazer das três maneiras e todas elas têm seus prós e contras. Quando você faz com outra pessoa, você acaba se preocupando mais com a outra do que com você mesmo. E o maior benefício dessa jornada é se conhecer a si mesmo. Por isso, ir sozinho é a melhor maneira. Você aprende mais com as pessoas que vai conhecendo, se abre mais as experiências que o caminho te dá e não deixa de olhar ao redor. Sempre fui sozinha e desde o começo fiz amizades que duram até hoje.

Desta última vez, a Suzana fez parte do caminho com seus pais

E como é a preparação? É bom fazer um treinamento antes de encarar a caminhada?
Sim, quanto mais preparado você estiver, menos vai sofrer durante a caminhada. O principal é ir amaciando o calçado (bota ou tênis), no mínimo 2 meses antes de começar o caminho. E um mês antes recomendo fazer caminhadas 4 vezes por semana de duas horas, andando bem rápido, pra acostumar o corpo com esse ritmo. Isso é o mínimo. Quem tiver mais tempo e puder treinar mais, melhor. Durante a peregrinação se caminha de 6 a 8 horas diárias.

Durante o trajeto, como é o assunto dos carimbos?
O peregrino precisa ir a uma Associação de Amigos do Caminho de Santiago na sua cidade para conseguir a Credencial do Peregrino, que é o que te dá direito de dormir nos albergues do caminho. Em cada albergue, bar ou igreja que o peregrino passar, ele deve carimbar essa credencial para atestar que está percorrendo o caminho.

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Qual é o gasto médio por dia?
De 15 a 30 euros, dependendo do preço do albergue e do gasto com comida. A maioria dos albergues custa 5 euros e tem cozinha. Assim dá pra cozinhar com outros peregrinos e diminuir custos. Há albergues que funcionam com doação (são grátis, mas você deixa o que quiser de dinheiro). E a maioria dos restaurantes oferece o chamado “menu do peregrino”; uma entrada, prato principal, bebida, pão e sobremesa, por 10 euros. Também tem albergues particulares que cobram 10 euros a diária.

Um dos hostels do caminho
Um dos hostels do caminho

Quais são as melhores paradas pra fazer? Quais lugares lindos você recomenda parar?
Todo o caminho é lindo. Tem cidades grandes onde há mais coisas para visitar, como Pamplona, Burgos e León, onde muita gente toma um dia de descanso. Há vilarejos de pedra, como O Cebreiro, cidades que pararam no tempo como Foncebadón, lugares míticos como Roncesvalles, pontes incríveis que dão nomes a cidade como Puente de la Reina, histórias de galinhas que cantam depois de assadas, como Santo Domingo de La Calzada.

Também tem cidades medievais da época dos templários, como Ponferrada. Há atrações durante todo o caminho, e o gran finale em Santiago de Compostela, é claro.

Todos os caminhos terminam em Santiago, o que acontece na chegada? O que você sentiu quando chegou lá?
É um momento mágico. Diariamente tem uma missa do peregrino ao meio-dia, onde você encontra todo mundo que conheceu durante o caminho. Há padres de vários países e o mais bonito, além da catedral em si, é a cerimônia do botafumeiro, um incensário gigante que voa pelo teto da catedral.

A tão esperada chegada à Catedral de Santiago de Compostela
A tão esperada chegada à Catedral de Santiago de Compostela

Qual de todos os caminhos você recomenda? Ir de avião ou de ônibus até qual cidade?
Recomendo o francês, que é o mais estruturado. Geralmente as pessoas vão de avião até Madrid, depois de avião ou de trem até Pamplona, e de lá de ônibus ou táxi compartido com outra pessoas até Saint Jean Pied de Port. Mas dá pra fazer trechos mais curtos e começar de qualquer cidade.

O mínimo para obter a Compostela, que é o diploma em latim que atesta que você percorreu o Caminho, são 100Km a pé. Ou seja, desde a cidade de Sarria, na Galícia, já vale também.

Imagino que você deve ter se emocionado muitas vezes durante o trajeto…
Foram várias. Em algumas missas, em algumas paisagens e conversando com alguns peregrinos. Nas jantas comunitárias, nas surpresas de aniversários comemorados durante o caminho. É uma experiência muito forte e intensa, na qual os ânimos ficam à flor da pele.

Você faria o caminho de novo?
Sempre. Quando você termina, já fica planejando quando vai voltar. É um vício!

Neste post a Suzana dá mais dicas pra quem quer fazer o Caminho de Santiago (quando ir, o que levar na mochila, como se preparar, etc).

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Fotos: Suzana Paquete

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