10 curiosidades sobre o Irã

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Fiz uma viagem de um mês pelo Irã e amei profundamente a experiência. Uma das perguntas que mais ouvi antes de viajar foi: por que você escolheu esse destino? Confira comigo 10 curiosidades sobre o Irã e por que eu fui parar lá!

Eu gosto de aprender com outras culturas, adoro desafios e gosto de viajar para lugares não tão turísticos, essa era parte da minha resposta.

Foram tantas coisas diferentes que descubri nessa viagem, que resolvi fazer um post só com os hábitos e costumes dos iranianos que me chamaram mais a atenção. Vamos lá!!

1. Piquenique em qualquer lugar

Essa é uma das coisas que achei mais fofa dos iranianos, eles fazem piquenique em qualquer lugar!! E quando digo qualquer lugar é qualquer lugar mesmo: em praças, no acostamento das estradas, na praia…

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Fazendo piquenique com uma família que me deu carona na estrada

É super comum ver pessoas viajando com grandes cestas de piquenique, uma toalha grande para estender no chão e muita comida. Eles levam tão a sério o piquenique que vi várias famílias, literalmente, preparando a comida mesmo com um pequeno botijão de gás no meio das praças.

2. Esqueça a faca

Você só vai encontrar uma faca se for comer em um restaurante para estrangeiros ou se pedir. Em suas casas, os iranianos só utilizam garfo e colher para comer.

Como na maioria dos pratos a carne já vem cortada, eles não usam a faca. Vai por mim e aproveite a oportunidade para desenvolver a habilidade de comer assim. Com jeitinho dá certo!

3. Pão nosso de cada dia

Sabe aquele nosso hábito higiênico de carregar o pão dentro de um pacote? Os iranianos carregam, literalmente, embaixo do braço.

É muito comum ver os locais comprando o pão e carregando sem o menor problema na mão, em cima da moto, embaixo do braço, no colo… Isso me chamou muito a atenção porque não achei o povo iraniano sujo, muito pelo contrário. Mas no quesito pão parece que o negócio é sem cerimônia mesmo.

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Confesso que sofria quando via alguém carregando pão sem colocar numa sacolinha e cada vez que comia pão na casa de alguém, tentava não pensar por quantas mãos já tinha passado hahaha!!

4. Chinelo nos banheiros

Em todas as casas onde fiquei hospedada, hotéis e hostels encontrei um chinelo nas portas dos banheiros. Faz parte da cultura dos iranianos entrar sem calçado nas casas e nos banheiros há sempre um chinelo especial na porta. Não é que cada um tenha um, todo mundo usa o mesmo.

No começo achei meio estranho e quis entrar com as minhas havaianas, mas o dono do hostel me explicou que os outros chinelos têm poeira e sujeira da rua e pediu que eu entrasse sempre com o dele. Respeitei a sua vontade e assim foi.

5. Mártires nas ruas

É comum ver inúmeras fotos desse tipo pelas ruas do Irã inteiro. A primeira vez que vi essas imagens pensei que seriam políticos. Depois comecei a reparar que quase todos vestiam roupa militar, tinham barba e eram homens. Perguntei para uns locais e eles me explicaram que essas fotos são de pessoas que morreram durante a guerra entre o Irã e o Iraque, nos anos 80. São os famosos mártires.

Essa foi a última grande guerra em que o Irã se envolveu. Cerca de um milhão de iranianos perderam a vida durante esses 8 anos. Algumas pessoas me disseram que as fotos ajudam a manter esse triste tragédia viva na memória coletiva, enquanto outros disseram que de tanto ver essas imagens, já nem as notavam mais nas ruas.

Eu confesso que cada vez que as via, sentia algo ruim por dentro. Eu acho que os políticos são os que colocam os países em risco e depois quem tem que ir lá no campo de batalha são as pessoas, os pobres mortais que acabam perdendo a vida em uma guerra e deixando famílias destruídas.

6. Vestimenta das mulheres

Vou falar de uma das coisas que mais tive dificuldade para me adaptar nessa viagem, a vestimenta. Por conta da lei islâmica, as mulheres devem usar saia ou calça comprida e sempre cobrir a cabeça com um lenço.

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Eu estive lá no fim da primavera (maio e junho) e o calor já era bem forte. Confesso que pra mim foi bem difícil ter que usar essa vestimenta e mesmo um mês depois não me adaptei e sempre achava um incômodo ter que o usar o bendito do hijab.

Com essa nova onda de protestos acontecendo no Irã pela liberdade de escolha de usar o véu ou não e por mais direitos para as mulheres, meu coração está com elas e com cada uma das iranianas que lá conheci! Torcendo para que essas mortes não tenham sido em vão. Ainda falo pelo Whats com várias iranianas que me hospedaram em suas casas e hoje elas compartilham comigo o difícil momento que estão vivendo desde que a Mahsa Amini foi morta pela polícia do país.

Como não me acostumei a usar o véu lá e também para tentar driblar o calor, fui inventando modelitos que me ajudavam nessas horas. O clássico é o lenço cobrindo a maior parte do cabelo e enrolado ao redor do pescoço. Só que isso me dava muito calor e os meus escorregavam do cabelo toda hora. Então inventei a técnida ¨gravatinha¨: fiz um nó na parte de baixo e isso fazia peso no lenço e evitava que caísse da minha cabeça. Anota aí, essa versão é perfeita para comer ou quando está ventando muito.

Outra invenção é a do véu com boné, minha favorita. Me protegia do sol e era a melhor maneira de segurar o lenço.

Modelito de boné + lenço

Também inventei o modelo trancinha nos últimos dias quando o calor começou a apertar ainda mais. Descobri que fazendo dois nós nas pontas o lenço ficava mais firme na cabeça e assim não tinha que enrolar em volta do pescoço, o que me produzia muuuuito calor.

Turbante, esse é o modelito mais fashion de todos, mas não aconselho usar em cidades menores e mais conservadoras. Um dia estava caminhando perto de um bazar em Sanandaj (na região do Curdistão) e um cara falou para a minha amiga iraniana para que eu ¨colocasse o hijab direito¨!! Sem comentários.

Esse é o modelito turbante que a menina da esquerda está usando. Eu estou sem nada na cabeça porque estava dentro da casa da chef.

7. Salve-se quem puder!

Eu achava que os argentinos não respeitavam os pedestres, mas depois de visitar o Irã mudei de ideia completamente. O trânsito em Teerã e nas grandes cidades é bastante caótico, todos (literalmente todo mundo) dirige e usa o celular ao mesmo tempo.

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Cheguei a passar pela terrível situação de um iraniano que me hospedou em Shiraz fazer uma videochamada para um amigo e dirigir ao mesmo tempo. What??? A ligação durou menos de 10 segundos porqu eu pedi pra ele desligar.

Nas rotatórias é difícil entender quem tem prioridade e há cruzamentos em que os carros vêm dos dois lados. Literalmente é um salve-se quem puder!

Por outro lado, os pedestres são verdadeiros mágicos na hora de atravessar as ruas. O sinal pode estar verde para quem está caminhando, mas os carros não estão nem aí e passam do mesmo jeito.

A minha estratégia, quando percebi que não ia conseguir atravessar nenhuma rua se esperasse os carros pararem era a seguinte: cada vez que eu via um iraniano, eu colova na pessoa, deixava ela do lado dos carros e atravessava na mesma velocidade que a pessoa.

Meu raciocínio, se o carro nos atropelar, pega a outra pessoa primeiro (sacanagem da minha parte mas é puro instinto de supervivência, gente)! E essa minha tática sempre funcionou.

Seja como for, vendo de fora o trânsito parece um caos e os motoristas iranianos desastrosos. Mas, apesar disso, eu juro que só vi um pequeno acidente durante o mês que passei no Irã!

8. Beijo e abraço, nem pensar

Como você já sabe o Irã é um país muçulmano e um lugar onde a regras sociais são quase todas ligadas à religião. Por conta disso, o contato entre homem e mulher em público é bastante restristo.

É comum ver pessoas se cumprimentando só balançando a cabeça e sorrindo. Se houver alguma intimidade ou você for apresentado a alguém, talvez receba um cumprimento de mão. Geralmente a mão é estendida só entre pessoas do mesmo sexo.

Outra maneira que vi por lá é colocar a mão no coração em forma de agradecimento, novamente sem tocar a outra pessoa. Em poucos casos, acho que só na região do Curdistão mesmo, presenciei beijo no rosto entre mulheres (nesse caso beijavam a bochecha 3 vezes).

9. Comer no chão

Muitas famílias do Irã, dependendo da região, preferem comer no chão das suas casas, nos tapetes, mesmo tendo uma mesa grande.

No começo achei estranho, mas logo me acostumei a comer no chão

Eu fiquei hospedada em algumas casas, através do site CouchSurfing, e tive a sorte de conhecer de perto um pouco mais da cultura do país. No começo achei meio estranho e incômodo ter que comer sentada no chão, mas logo peguei a prática.

As famílias costumam se reunir em cima de belos tapetes, não sem antes colocar uma toalha de plástico em cima, e passam horas comendo e colocando o papo em dia. Aliás, iraniano costuma comer bastante e é normal que sobre comida na panela, caso algum visitante chegue sem avisar. Cortesia e simpatia persa que presenciei várias vezes.

9. Sem álcool, só no suco

É isso mesmo, no Irã é proibido vender ou consumir cerveja, vinho, vodca…qualquer bebida alcoólica. O país se rege pela Lei Islâmica e para os muçulmanos estrictos, o álcool está totalmente vetado.

Se por um lado isso pode parecer chato, pode ter certeza de que o corpo acostuma e você vai até agradecer ter umas férias ¨detox¨ 🙂 Aproveite para trocar o álcool pelos deliciosos sucos de cenoura ou romã que os iranianos costumam tomar.

E não adianta insistir, você não vai encontrar um estabelecimento que venda álcool em lugares públicos. Talvez e só talvez você possa beber na casa de algum iraniano mais ¨aberto e corajoso¨ que consiga alguma bebida contrabandeada de algum dos países vizinhos ou produzido dentro do Irã bem escondido, é claro.

Eu fiquei hospedada uns dias na casa de um couchsurfer e essa pessoa tinha vinho tinto que era produzido lá nos cafundós da casa de não sei quem perto de Shiraz e eu provei mais por curiosidade, para sentir o sabor e não porque estava com saudades de beber álcool.

Sobre o sabor, hummm era bem ruinzinho. Eu não gostei. De qualquer maneira, também entendo que como produzir bebida alcoólica é proibido no país, não é fácil de fazer. E pensar que o famoso vinho Shiraz vem dessa cidade que tem o mesmo nome.

11. Bônus 🙂  Taroof = coma mais, por favor

Essa é uma palavra que não consigo encontrar tradução no português. Os iranianos são famosos pelo taroof, que seria algo como uma troca de gentilizas exagerada, ao meu ver.

Vou tentar explicar: por exemplo, eu ofereço algo de comida para um iraniano e ele me diz não, obrigada. Mas na verdade a pessoa quer comer, mas pela cultura eles costumam recusar 3 vezes antes de aceitar!!

É quase impossível comer pouco no Irã

Até aí tudo bem, mas o problema é que o bendito do taroof se estende algumas vezes até mesmo na hora de fazer uma compra ou de pagar um táxi. Uma vez fui pagar um taxista e ele fez sinal de que não queria o dinheiro. Achei estranho, mas guardei o dinheiro e agradeci. Pensei: acho que porque a corrida foi curta e porque sou estrangeira ele não quer me cobrar. Mas na hora de descer do carro ele ficou me olhando com cara de você não vai me pagar? Vai entender!!!

Outra coisa que os iranianos fazem muito, e eu achei meio chato às vezes, é que eles insistem muito para você comer quando está na casa deles. Colocam comida no teu prato, mesmo depois que você já disse umas 5 vezes que já está satisfeito!

Segundo as pessoas com quem conversei, isso é parte da cultura iraniana, a gentileza exacerbada!! Percebi que os mais velhos fazem muito isso, já os jovens não gostam nem seguem muito à risca o tal do taroof.

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Você já esteve no Irã? O que te chamou a atenção da cultura deles? Vou adorar saber! É só deixar um comentário aí embaixo.

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