A natureza é poderosa! O pequeno povoado de Epecuén, a 530km de Buenos Aires, que o diga. Imagina um lugar onde ruas e casas ficaram totalmente embaixo d´água e os moradores tiveram que sair quase às pressas.
A inundação nesse vilarejo argentino foi em 1985 e somente 20 anos depois, quando a água começou a descer, é que os antigos moradores puderam voltar para ver o que tinha sobrado das suas propriedades. Restaurantes, hotéis, clubs, sorveterias, fábricas de alfajor e tantos outros estabelecimentos viraram pura ruína.
Eu já tinha ouvido falar de Epecuén uma vez em um documentário e fazia tempo que tinha vontade de conhecer esse lugar. Aproveitando que teve um encontro de fotografia noturna por lá. Um evento que acontece todos os anos feitos pelos guris do Travesia Visual, lá fomos nós conhecer esse destino inusitado.
Ao entrar no povoado, algumas fotos antigas dão uma dimensão de como era esse famoso balneário onde moravam cerca de 1500 pessoas, há 30 anos.
A água de Epecuén sempre foi famosa por ter grandes quantidades de sal e propriedades curativas. Quando você entra na água ali as pessoas ficam boiando automaticamente. A salinidade das águas termais de Epecuén só perdem para o Mar Morto. Além disso, elas são terapeuticas porque contém enxofre, que faz bem para a pele e para os músculos. Por tudo isso, muitos argentinos costumavam visitar a região no verão e lotavam esse balneário.
Caminhar por ali me fez lembrar da guerra na Síria, um lugar tão devastado onde a única coisa que resta são escombros. A parte boa é que ninguém perdeu a vida na enchente de Epecuén porque as pessoas tiveram duas semanas para deixar suas casas e levar consigo alguns pertences e móveis. ¨Eu tinha um hotel e conseguimos levar só algumas coisa, o que tinha mais valor, mas não tudo¨, me contou Mirta Stoessel, antiga moradora de Epecuén.
A parte boa é que hoje em dia a inundação acabou atraindo a atenção dos turistas e esse lugar virou um ponto turístico para quem gosta de visitar lugares diferentes. Além disso, a pequena cidade de Carhué, que está a 8km dali, tem alguns hotéis e um complexo termal que está prestes a inaugurar.
Entre ruínas e pedaços de muros, encontrei este carro antigo que ficou parado no tempo, assim como esta escada que parece te levar a lugar algum.
Conversando com alguns moradores, fiquei sabendo que essa inundação poderia ter sido evitada, mas os políticos que estavam no poder naquele momento decidiram que Epecuén deveria ¨pagar o pato¨. Por conta das fortes chuvas, de uma barragem que se partiu e de reformas que não foram feitas, Epecuén foi propositalmente alagada.
A Mirta me contou que algumas pessoas receberam uma indenização do governo argentino, mas que a quantia não chegou a cobrir nem a metade do valor das casas naquela época. Quem pôde esperar mais e entrou com ações na justiça, acabou recebendo uma quantia melhor. ¨Eu fiquei viúva um ano depois e tive que criar dois filhos sozinha. Por isso aceitei a indenização naquele tempo. Logo acabei abrindo uma loja de roupa, mas voltei à hotelaria que é o que eu realmente gosto e sei fazer¨, explica ela.
Ao sair de Epecuén, um dos edifícios mais emblemáticos é o Matadeiro. Ele foi projetado pelo famoso arquiteto argentino Francisco Salamone, que é bem famoso no país por ter sido um vanguardista para a época.
A fachada do prédio está em pé e bem conservada, apesar de boa parte ter ficado debaixo d´água, mas por dentro está bem destruído. É muito legal caminhar por essas ruínas e imaginar como era o prédio quando estava em funcionamento.
Quando ir
A melhor época para visitar a região eu diria que é no verão porque nesses meses não faz tanto frio e dá para aproveitar o complexo termal ao ar livre que fica em Carhué.
Onde dormir
Como a distância de Buenos Aires a Epecuén é considerável (530km), fazer um bate e volta no mesmo dia é meio puxado. Eu aconselho passar pelo menos uma noite em Carhué, a cidadezinha mais próxima das ruínas. Ela é uma cidade do interior mega super tranquila. A praça central é linda e super grande, tem quatro quarteirões!!
Na praça, outro edifício que chama a atenção é o Palácio Municipal que tem um design avançado para a época em que foi construído, em 1938. A obra também é do arquiteto Francisco Salamone.
A minha dica é reservar meio dia para conhecer Epecuén e na outra metade do dia aproveitar para relaxar nas águas termais do complexo.
Nós ficamos hospedados no Apart Hotel Flavia, que é da Mirta. O estabelecimento oferece apartamentos para 2 e até 8 pessoas, com cozinha e banheiro.
A localização é ótima, o lugar é aconchegante e a Mirta dá uma ótima introdução e conta a história de Epecuén como ninguém!!
Obrigada, Denison. Epecuén é realmente um lugar único. Espero que você possa conhecer um dia.
Achei sua apresentação muito contagiante e dá vontade de conhecer. Fotos muito boas e de qualidade.