Dizem que tudo o que é mais difícil é melhor, só não sei se isso também se aplica às viagens. Desde Lichinga, Moçambique, levei quase 24 horas para chegar em Likoma, no Malawi, meu destino de descanso.
A primeira parte da viagem foram 120km de carona com uns colegas do trabalho, a melhor e mais fácil parte do trajeto. O duro foi encarar 6h dentro de um caminhão segurando minha mochila, uma garrafa térmica enorme no meio das pernas (que não era minha), uma sacola com sei lá o que nos pés e dividir o mesmo banco com uma senhora que carregava 4 dúzias de ovos no colo e mais a sua bagagem.
Sem falar da pésssima estrada que liga Metangula a Cobwé, no norte de Moçambique; de terra, cheia de buracos, algumas pendentes perigosas e sem sinalização alguma. Isso que eu ainda tive sorte e viajei na parte da frente do caminhão, o resto do pessoal teve que se amontoar atrás, entre sacos e mercadorias, uma pena mesmo.
Ok, vamos ao relatório; saí de Lichinga as 9am e cheguei em Cobwé quando já eram 19h. Well, well, como já estava de noite e não tinha mais barcos para cruzar até Likoma, dormi numas pequenas casinhas na praia (no Khango), que a única coisa que tinha dentro era uma cama com rede mosquiteira. Bom, depois dessa viagem tão cansativa a única coisa que eu queria mesmo era dormir. Minha única tristeza foi quando vi que ali não tinha nem água nem comida pra vender. Ainda bem que aquele pacote de bolachas de chocolate, que metade já tinha sido meu almoço, também serviu para meu jantar e café da manhã no dia seguinte.
Dormi e apaguei. Algumas horas depois, o dia amanheceu e Lucila foi pra beira do Lago Niassa esperar o barco pra cruzar, não sem antes carimbar o passaporte e tal.
A ilha de Likoma pertence ao Malawi. Essas terras estão mais próximas de Moçambique, mas por razões históricas são do país vizinho. Nós, brasileiros, precisamos de visto para entrar no Malawi, e o visto tem que ser tirado no Brasil ou nas cidades de Blantyre ou Lilongwe (capital do Malawi).
Eram 7h30 da manhã quando o pequeno barco partiu. Muita gente subiu com sacolas, mantimentos, bambus e crianças. O percurso foi tranquilo e, finalmente, uma hora e meia depois eu estava em Likoma!
Essa ilha é terra de enormes baobás (árvores típicas desta região da África), de pés de manga e gente acolhedora, que fica alegre com a visita de estrangeiros. Os moradores são muito simpáticos e as crianças ainda mais. Quando caminhava pelas estradas, muuuuitas crianças gritavam “mulungu” (branca) e corriam pra me dar a mão e caminhar comigo. Eles adoram pedir pra serem fotografados só para depois verem sua imagem na máquina.
É incrível como um lugar tão paradisíaco ainda consegue conservar seu encanto, justamente por não ser tão turístico. Likoma tem só 8 quilômetros de comprimento e está rodeada pelo Lake Malawi, que do lado de Moçambique chama-se Lago Niassa.
Com seus 500 quilômetros, esse lago é o terceiro maior da África. Mergulhar nas suas águas é uma experiência incrível; a água é transparente e azul clara, os peixes nadam entre os nossos pés e às vezes tem até ondas. Era engraçado entrar no lago, abrir os olhos embaixo d´água e perceber que era doce, porque é muito parecido ao mar.
Likoma tem cerca de 7 mil habitantes e só 12 carros, ainda bem. Dá pra percorrer boa parte dela a pé, mas prepare-se para subir e descer ladeiras. Além de belíssimas praias, a outra atração é a Catedral de St Peter´s, uma igreja anglicana que chama a atenção no meio da ilha. O edifício é tão grande que cabem ali 3 mil pessoas, quase a metade da população de Likoma.
O Malawi é ex-colônia britânica e a maioria é protestante. O inglês é o idioma oficial, mas poucas pessoas o falam na ilha. Em Likoma, todos falam chichewa, uma língua muito parecida ao nyanja, que se fala do outro lado do lago, em Moçambique.
Como a ilha não é tão turística, tem poucas opções de alojamento. De qualquer maneira, achei mais do que suficiente, mais ainda porque os três maiores são para públicos diferentes.
O mais luxuoso é o Kaya Mawa, um lodge com casas requintadas e detalhes curiosos como uma banheira ao ar livre, assim dá pra tomar banho vendo as estrelas. Nada mal, né?
Além disso, os hóspedes podem escolher entre fazer snorkel, mergulhar, passear de barco ou relaxar na areia branca, enquanto tomam um drink. E como todo luxo tem seu preço, as diárias com alimentação incluída custam em torno de US$400 por pessoa.
Para quem não pode ou não quer gastar tanto, outra opção é o Ulisa Bay Lodge, um pequeno hotel com 4 quartos, todos de frente para a tranquila baía de Ulisa.
O proprietário é o simpático Chris, um inglês que resolveu se aposentar por aqueles lados. Fiquei hospedada duas noites ali e o que mais gostei foi da vista do deck durante as noites. Os pescadores utilizam lanternas para atrair a atenção dos peixes, por isso, aos poucos, várias linhas amarelas vão se formando no horizonte. É uma imagem gostosa de ficar olhando.
Além disso, me amarrei no cheesecake de frutas vermelhas que fazem ali e na cerveja local “Kuche Kuche”. Adorei esse nome, que significa algo como: do amanhecer ao atardecer.
E a outra opção é o Mango Drift, uma alternativa para quem busca um lugar econômico, relaxado e com ótimo astral. O alojamento é o backpackers mais legal que conheci até hoje; quartos grandes e limpos, mesa de bilhar, rede de vôlei na praia, biblioteca para intercâmbio de livros, e as cabanas para duas pessoas são tão bem decoradas que a gente até esquece que esse é um lugar para mochileiros. Detalhe, todas as camas tinham pétalas de flores. Achei tão lindo. Isso é coisa de mulher, eu sei, mas fazer o quê? Somos assim.
Além disso, os quartos estão diretamente na praia. Você abre a porta e o lago com sua água límpida está logo ali na frente. O restaurante, com uma árvore de manga no meio, é o ponto de encontro dos hóspedes.
Durante as noites, o jantar é servido ali em uma mesa comunitária. Achei uma ótima ideia para conhecer outros viajantes e trocar histórias e dicas. Sem falar do preço, que é muito camarada; a diária dos quartos coletivos é de US$8. Eu passei duas noites ali também.
Durante os dias que passei em Likoma, descansei muito, conheci gente legal e fiquei pensando no papel da indústria turística em certos lugares. Pensei em que é muito importante que os viajantes saibam respeitar a cultura e as pessoas que vivem ali, para que os locais possam se beneficiar do turismo, mas sem deixar que a ilha perca seu ar de inexplorado e virgem. Espero mesmo que Likoma permaneça assim por muito tempo.
Hehehe, Sarah, a banheira foi ótima para relaxar. Ai, ai, só de lembrar de Likoma de novo já tenho vontade de passar por todo o sacrifício pra chegar lá de novo. Ainda mais que é um lugar pouco conhecido e turístico. Abraços e obrigada por acompanhar sempre o blog.
Gente o que é isso? Estou apaixonada por esse lugar é essa banheira ao ar livre, já tá valendo o sacrifício de 24 horas, parabéns!
Olá Zé
Obrigada. Este lugar é realmente maravilhoso!!
Beijinhos de Pemba – Moçambique.
Olá Lucila. Como estás? Muito bonita a descrição deste paraíso…
Beijo
Gracias. Feliz que te gustó. Abrazos!
Buena nota y muy buenas fotos!!
Oi, Sandra
O voluntariado já está chegando ao fim :(, mas ainda fico na África até o fim de dezembro. Ainda vem pela frente: Pemba, Tanzânia, Quênia e África do Sul 🙂 e muuuitos posts. Beijos e obrigada por me acompanhar!!
Lindo lugar…
Mas isso significa que está acabando sua estada pela África? Que rápido que passou!
Boa viagem.