Em Moçambique o tempo tem outro ritmo

Parque Tunduro Maputo
Pessoas caminham tranquilas pelo Parque Tunduro, em Maputo.

Logo que cheguei aqui me dei conta de que as horas passam mais devagar. É sério! Eu faço várias coisas por dia e quando olho no relógio parece que a hora não passou. Também me dei conta de que aqui o ritmo é outro; os moçambicanos caminham mais devagar, comem sem pressa, tomam um bom tempo para cumprimentar um conhecido na rua, e mesmo assim o tempo aqui rende pacas. 

Depois de passar duas semanas em Maputo, me mudei 2.500 quilômetros para o norte, e agora estou morando em Lichinga, onde vim fazer um trabalho voluntário. Estou na capital da província do Niassa, a menos desenvolvida de Moçambique. Nos próximos posts vou contar mais sobre esta experiência, hoje quero mesmo é falar do tempo.

estação de ferro de moçambique cfm
O tempo parece que parou aqui na estação de trens de Maputo. Foto: Lucila Runnacles

Entre outras coisas, esta pequena cidade tem problemas de energia elétrica. Muitas vezes não há luz durante o dia, e com frequência de noite também falta. Já estou ficando craque em cozinhar e tomar banho a luz de lanterna. Como aqui parece que o tempo rende muito, até mesmo me dou ao luxo de ficar olhando a água ferver. É uma emoção quando as primeiras borbulhas começam a aparecer na panela.

E ao contrário do que possa parecer, essa situação de falta de energia, não me chateia. Me dei conta de que posso aproveitar o tempo na escuridão de outra maneira. Percebi que fazia tempo que não apreciava o céu e contava estrelas. Agora fico vários minutos olhando a beleza do céu de noite. Sem exagero, é magnífico! Também aprecio a conversa de como foi o dia, com a família do Santos, na casa onde estou hospedada, quando a gente se reúne na cozinha ao redor de uma vela ou de alguma lanterna.

Acho que essas são pequenas coisas que passam desapercebidas quando estamos na cidade grande, cheios de tecnologia ao nosso redor e infinitos compromissos, quase sempre inadiáveis.

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Este é o caminho que faço para ir e voltar do trabalho. Foto: Lucila Runnacles

Gosto desta sensação que descobri: de que aqui o tempo tem outro ritmo e até mesmo outro valor!

Também acho que o meu tempo aqui rende, porque com a falta de luz acabo indo dormir cedo e acordo com os galos, quase quando amanhece. Antigamente não suportaria isto, mas hoje acho que assim estou mais em sintonia com o lugar e com esta experiência que vim procurar.

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Pelas ruas de Lichinga. Foto: Lucila Runnacles

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