Você lembra do Muro de Berlim e toda a divisão em torno dessa história? Então, Nicósia, a capital do Chipre, é hoje a última cidade do mundo dividida!
Eu tinha muita curiosidade por conhecer essa realidade e aprender um pouco mais sobre esse conflito que já dura mais de 50 anos e tive a sorte de visitar o Chipre recentemente. Me acompanhe neste post e fique por dentro de como isso começou e o que ver do lado turco.
Um pouco de história
Em 1974, os turcos aproveitaram um golpe de estado que estava acontecendo no Chipre e decidiram invadir a região norte desse país.
Depois de dias de confito militar, os turcos ¨anexaram¨ essa parte do território para si. Cerca de 30% do Chipre hoje em dia é a República Turca de Chipre do Norte, mas o mais engraçado é que essa região só é reconhecida pela própria Turquia! Ou seja, nenhum país, nem a ONU, apoia essa ocupação.
Disso já se vão mais de 50 anos e um saldo que deixou cerca de 4 mil mortos e um terço dos moradores do norte do Chipre que foi obrigado a se mudar para o sul do país.
Cruzando a ¨fronteira¨
Pessoalmente, apesar de não estar de acordo com os turcos nisso, eu queria muito visitar essa outra área para entender um pouco mais e também porque gosto muito da cultura turca.
A divisão da cidade está feita bem no meio da parte antiga, um lugar que é circundado por belas muralhas venezianas. Desde que esse conflito começou as Forças de Paz da Onu estão lá e são eles que custodiam a Linha Verde, a faixa que separa a cidade em duas.
Para atravessar a ¨fronteira¨ a pé tem dois check points, um fica na Ledra Street (foi por onde eu cruzei) e o outro é o Ledra Palace. Para atravessar de carro e também a pé o ponto é Agios Dometios.
Para atravessar foi bem fácil. Eu só mostrei o passaporte ao sair do lado cipriota, caminhei menos de 30 segundos e mostrei meu passaporte para os policiais turcos. Eu viajei com meu passaporte italiano, então não tive nenhum problema nem para sair nem para voltar e não carimbaram meu documento. Vale checar se é possível fazer o mesmo com o passaporte brasileiro.
É muito curioso dar de cara com essas barricadas no meio da cidade. Confesso que não senti uma boa impressão quando vi esses sacos de areia, latões pintados, arame farpado e militares armados patrulhando essas áreas onde tirar foto não é permitido, mas a gente sempre dá um jeitinho.
Essa é a zona militarizada, comandada pelas Forças de Paz das Nações Unidas (UN). Eles estão ali para evitar que um lado entre em conflito com o outro e assim poder manter a paz. O problema é que essa missão da UN está ali desde 1974 e até agora não houve nem uma mudança ou algum acordo para voltar a reunificar o país.
Eu estava tranquila, não tive medo, mas ao cruzar senti uma espécie de animosidade e um pouco de tristeza por imaginar como deve ter sido difícil para os cipriotas gregos ter que abandonar suas casas de um dia pro outro. Enfim, consequências que vários conflitos no mundo também deixam hoje em dia, em pleno século XXI.
Aproveite para ler também: o que fazer no Chipre
Merhaba, Turquia!
Bem na hora que eu terminei de cruzar, uma mesquita começou com a chamada ao rezo desde seus alto-falantes. Lembrei da primeira vez que estive em um país muçulmano e como isso chamou a minha atenção tantos anos atrás.
O lado turco de Nicósia é literalmente como se você estivesse em qualquer cidade da Turquia. O idioma nas ruas muda, a moeda é a lira turca e os produtos nas lojas são totalmente diferentes.
Logo na entrada tem um bazar com várias coisas que podem ser comprados nos mercados de Istambul. Se você gosta de fazer compras, aproveite porque desse lado é mais barato que do lado cipriota. Também dá pra pagar tudo em euros, mas convém trocar dinheiro do lado turco e pagar em lira turca mesmo; eu fiz as contas 😉
O que visitar
Como eu cruzei a pé, só consegui fazer caminhadas curtas ao redor e não pude ir muito longe.
A menos de 500 metros do check point visitei um lindo caravanserai (onde antigamente os camelos e os comerciantes descansavam quando viajavam de uma região a outra).
Hoje em dia esse é um bazar com várias lojinhas no segundo andar. Eu não encontrei nada interessante para comprar, mas a construção em si vale a visita.
Do lado turco tem várias mesquitas, é claro, alguns restaurantes e praças sossegadas. Eu fiquei ali por umas 2h, caminhei bastante e foi bem tranquilo.
Achei as casas menos cuidadas que do outro lado e algumas meio abandonadas, mas isso não chegou a tirar o encanto do lugar.
Do lado cipriota
Antes de voltar para Pafos, onde estava hospedada, dei uma caminhada pelo calçadão principal (Ledra Street) e depois comi um kebab por ali mesmo. Tem vários restaurantes, cafés e lojas nessa rua.
Outra coisa legal que fiz do lado cipriota grego foi visitar o Pafos Gate (tem três na cidade). O centro antigo de Nicósia fica dentro de uma muralha veneziana em forma de estrela.
As três entradas principais da cidade antiga amuralhada estavam localizadas nesses grandes portões.
Documentação
O Chipre faz parte da União Europeia. Por isso turistas brasileiros precisam mostrar a mesma documentação exigida por outros países do bloco. Brasileiros não precisam de visto se desejam ficar até 90 dias, mas devem apresentar estes requisitos:
– passaporte com uma validade mínima de três meses
– passagem de retorno ao Brasil ou com destino a outro país
– comprovantes financeiros para a estadia; dinheiro, cartão de crédito internacional, etc.
Além disso, também vai ter que mostrar a reserva do alojamento onde vai ficar hospedado no Chipre.
Você já conhece o Chipre, tem alguma dica para compartilhar com a gente?