Já não tenho mais futuro – #RefugeesWelcome

Entrada do campo de Souda

– Min aina anta? (De onde você é?)
– Al Suria (Da Síria)
– Mataa anta huna? (Há quanto tempo você está aqui?)
– 7 ashhur (7 meses)
– Inshallah você vai sair logo deste campo de refugiados.
– Tomara mesmo, mas eu sei que já não tenho mais futuro.
– O quê? Não diga isso, todos temos futuro. Você ainda é jovem.

Aly olha para baixo e a única coisa que consegue dizer é que não tem mais futuro.

– Primeiro tentei conseguir visto para viver em Dubai e não consegui. Depois cruzei ilegalmente pela Turquia até chegar aqui, onde estou neste campo de refugiados esperando há 7 meses por uma resposta. Eu já não tenho mais futuro.

– Olha pra mim, por favor.

Juntei toda a coragem que pude, meus olhos se encheram de lágrimas mas consegui dizer a esse jovem de olhos verdes e apenas 31 anos algumas palavras.

– Todos temos futuro e você também tem um esperando por você.

Contei a ele que na Argentina existe um programa do governo que se chama Programa Síria onde as pessoas desse país podem aplicar para receber um visto humanitário e viver legalmente no país.

– Você tem email, quero te mandar uma informação?
– Não tenho email nem telefone. Meu celular quebrou.
– Então vamos nos encontrar mais tarde no campo. Na hora das refeições estou sempre por lá. Quero te contar mais sobre essa possibilidade, caso você queira tentar a sorte fora da Europa.

Depois de pensar por alguns segundos, ele me responde…

– Você disse Argentina, né? Ahhhhh. Eu sei, lá eles bebem mate. Já ouvi falar desse país.

Pude ver um pequeno sorriso em seu rosto.

– My friend, believe me there is future for you!!

Agora espero que a gente possa se encontrar nos próximos dias para que eu conte a Aly um pouco mais sobre o Programa Síria para que ele possa decidir se quer tentar a sorte por lá também…

Esta história é parte da série #RefugeesWelcome, relatos que escrevi durante o voluntariado que fiz no campo de refugiados de Souda, na ilha de Chios. São vários relatos que você pode acompanhar aqui no blog.

Se quiser ler mais sobre a minha experiência como voluntária no campo de refugiados na Grécia, confira aqui.

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