[dropcap letter=”I”]nfelizmente Buenos Aires não tem praia. Acho que se tivesse, essa seria a minha cidade preferida pra viver. Aqui não tem mar perto, mas pelo menos tem rio. E um dos lugares mais visitados pelos portenhos e pelos turistas durante os fins de semana de verão é o município de Tigre (a 35km de Buenos Aires), que fica na beira do rio de mesmo nome. Eu gosto muito de passear por lá, de ver o rio, tomar um pouco de sol, passear pelo delta de lancha ou de barco, e descansar um pouco da cidade grande. Além disso, dá pra chegar em uma hora de trem, numa viagem rápida e barata.
O Tigre tem várias atrações e lugares bacanas pra visitar. Em um dia dá pra ter uma boa ideia, caminhar bastante e fazer um passeio pelo Delta. Tem várias empresas que oferecem o serviço, o preço depende da embarcação e do tempo do passeio. Pela água marrom, os barcos vão passeando pelas ilhas e pelas casas dos moradores, é bonito.
Este fim de semana estive por lá, especialmente pra conhecer o Museo del Mate. O chimarrão está na minha vida desde que nasci; filha de pais argentinos, desde pequena lembro que meu pai tomava chimarrão quase todos os dias. Engraçado como a gente vai mudando de gosto, né? A primeira vez que provei mate eu detestei e fiquei muitos anos sem tomar de novo. Quando vim morar aqui, resolvi dar outra chance à essa bebida típica e não é que gostei?
Ok, não sou uma tomadora de mate como os argentinos, mas se vou a casa de alguém, eu aceito. Um programa que curto muito é ir num mate-bar aqui em Buenos Aires. Sempre que vem alguém de fora eu levo pra conhecer. Escrevi um post sobre esses lugares aqui. Bom, voltando ao Tigre, fiquei curiosa em saber o que tinha nesse tal Museu del Mate e tive uma grata surpresa.
São dois mil objetos distribuídos em cinco salas e tem várias coisas bacanas. Foi legal saber que antigamente a cuia era sinal de status. Muitas famílias ricas mandavam fazer as suas em prata ou com outros materiais finos. Hoje em dia, tem mate de tudo que é tipo; de madeira, plástico, vidro, casca de abóbora, lata e até de silicone. Um dos mais tradicionais e recomendados pelos entendidos é o de calabaza (feita com a casca de abóbora). Dizem que por ser um material poroso, ressalta mais o sabor do chimarrão.
Outra coisa interessante que descobri nessa visita é que os soldados tomavam chimarrão durante a Guerra das Malvinas. Como? Eles cortavam as latas de coca-cola ao meio pra usar de cuia, e a bomba era feita com o tubo da caneta (sem a tinta, é claro) que tinha vários furinhos em uma das pontas. Bacana, né?
Além disso, essa foto do Che Guevara bebendo mate, com um olhar 43 e numa posição um tanto quanto sexy, também me chamou a atenção.
A graça de tomar chimarrão é poder compartilhar com os amigos. Aqui é muito comum alguém te ligar e dizer; Che, veníte a casa a tomar unos mates. Depois pode até ser que vocês acabem tomando outra coisa, mas o chima sempre serve como desculpa para uma reunião informal. Aliás, confesso que no começo eu tinha um pouco de nojinho de compartilhar a mesma bomba, agora meio que passou, mas se não tem nenhum local me olhando, eu limpo um pouco com a mão antes de tomar hehehe. Lembrei disso quando vi no museu uma plaquinha que dizia: mate higiênico.
Dizem que os imigrantes alemães quando chegaram aqui não compartilhavam, cada um tomava o seu. Nada de colocar a boca onde outro já colocou. Cada um com seu cada um, né?
Como vocês podem imaginar, o que mais tem nesse museu são cuias. Tem de vários tipos e algumas são bem curiosas, como essas feitas pra cegos. Elas têm um dispositivo que apita e treme um pouco quando um certo nível de água é atingido, assim a pessoa não se queima quando está colocando água.
Dizem que a temperatura ideal pra tomar chimarrão é 80ºC. Não pode deixar a água ferver, o argentino fica louco quando isso acontece. Na verdade, eu acho que eles tomam quente demais. Quando estou com amigos, sempre sou uma das últimas a beber, prefiro mais morninho e que o mate esteja lavado, mais suave.
O chimarrão tem muitos benefícios; é diurético, estimula o coração e o sistema nervoso, etc. Parece que o mate tem a metade de cafeína de um chá; e ¼ de um café. Ou seja, não é tão forte assim. Eu gosto de tomar o mate em saquinho. O que aqui na Argentina chama-se mate cocido, que nada mais é do que a erva-mate moída em saquinho de chá. Adoro!!
Os argentinos e uruguaios sempre estão discutindo pra ver quem é o que toma mais chimarrão. Eu já estive no Uruguai e acho que são eles. Lá, você o povo andando com a garrafa térmica e a cuia pra tudo quanto é lado, é sério. Já aqui na Argentina, o pessoal costuma beber mais dentro de casa, em reunião com os amigos e no trabalho também rola. Outro dia, durante uma entrevista na TV, ouvi o cantor Kevin Johansen contar uma coisa tão bonitinha. Ele disse que quando era pequeno e morava no Alaska, tomava leite com a bomba do chimarrão.
E como tomar mate é sinônimo de reunião com amigos, na parte de fora do museu tem um mate-bar com algumas mesinhas e um aconchegante jardim para quem quiser jogar conversa fora, tomar mate e provar alguns doces caseiros. Eles oferecem o serviço de chimarrão e doces caseiros por $25 por pessoa, o chima é ilimitado. Algumas vezes tem até bolo feito com erva-mate, mas quando eu fui não tinha, que pena.
Um detalhe, atualmente a inflação na Argentina é galopante, algo em torno de 25% ao ano. Por isso saibam que os preços que escrevo no blog servem somente como referência. Infelizmente quase tudo aumenta a cada semana por aqui.
Como chegar
Tem um trem (línea Mitre) que sai direto da estação de Retiro e vai até Tigre. A viagem é barata, mas é bem pop. Dependendo da hora, o trem vai bem cheio, principalmente na hora do rush. Dia de semana tem trem a cada 10 minutos e nos fins de semana é a cada meia hora.
Outra maneira de chegar com transporte público é com o ônibus número 60, mas prepare-se para uma viagem longa, 2 horas no mínimo. E tem um detalhe importante, pra comprar ticket de ônibus é só com moeda. E vale redobrar o cuidado com bolsas, mochila e celulares. Não quero assustar, o trajeto é tranquilo, mas os batedores de carteira também viajam nos trens e ônibus daqui.
Serviço: O Museo del Mate fica na Rua Lavalle, 289 (10 minutos a pé da estação de trem do Tigre).
Olá, Aguinaldo
Fevereiro ainda faz muuuuito calor em Buenos Aires, não aconselho ir. Eu diria que março e abril seriam as melhores opções e não costuma chover muito nessa época. Abraços!!
Olá Lucila, eu e minha esposa pretendemos conhecer Buenos Aires em 2014 provavelmente entre fevereiro e abril. Qual mes nos recomenda que chova pouco ou de preferencia nada.
Gracias!