Com apenas 6 meses de preparação, a Karla e o Fred largaram a vida estável que tinham em Natal e colocaram os pés na estrada. O casal deu uma volta ao mundo numa viagem que durou 219 dias e passou por 20 países. “Em 7 meses vivenciamos e aprendemos, o que em em 27 anos não havíamos feito e, talvez, levaríamos a vida toda para fazer”, diz Karla.
Ela que é jornalista e autora do blog Compartilhe Viagens conta pra gente como foi essa aventura de abandonar a rotina e percorrer vários continentes, inclusive a Oceania, onde eles alugaram uma campervan para percorrer a Austrália. Durante essa viagem, eles mantiveram uma média de gastos de 45 dólares por dia (pra cada um). Confira como foi essa aventura e aproveite as dicas de planejamento e orçamento. Este é o penúltimo post da série “Volta do mundo” de entrevistas com blogueiros e viajantes. Aproveitem!!
– De onde surgiu a ideia dessa viagem? Era um sonho antigo?
A decisão em si foi feita em um dia, perguntei ao Fred se ele toparia e ele disse “sim”. Mas, na verdade, surgiu da vontade que já tínhamos de conhecer o mundo. Tínhamos uma lista de lugares que gostaríamos de visitar e aquilo levaria anos se continuássemos viajando apenas duas vezes por ano, como era de costume. Antes de perguntar ao Fred, tinha conversado com algumas pessoas que já tinham feito a viagem e percebi que era sim um sonho possível.
– Qual é a melhor dica pra quem está planejando fazer uma volta ao mundo? O primeiro de tudo é ter certeza da decisão que está tomando. Não adianta fazer apenas porque soube de outras pessoas que fizeram. É uma decisão que irá mudar sua vida antes, durante e depois. Então, é preciso estar certo do que quer. Se você estiver certo, vá em frente, que não irá se arrepender.
– Como se prepara uma mochila para uma viagem tão longa? O que é realmente indispensável?
O principal planejamento tem que ser o financeiro. É preciso economizar antes de partir e, principalmente, ter disciplina para economizar durante a viagem. Esta economia irá significar mais ou menos tempo de viagem. Sem contar que ao voltar você terá que recomeçar a sua vida. Quanto ao planejamento dos lugares para ir é muito mais fácil. Praticamente só escolhemos os países que queríamos ir e o restante íamos resolvendo ao longo do caminho.
– Você disse que uma boa é conhecer países que estão mais longe e tem um custo de vida mais barato. Explica melhor isso aí…
Depois de uma volta ao mundo, dificilmente você terá outras oportunidades, principalmente a curto prazo de tirar outros períodos sabáticos. Por isso é melhor escolher lugares mais distantes que dificilmente você poderia ir em férias convencionais. Em um país com um custo de vida mais baixo, você terá condições de ter maior qualidade e desfrutar mais da viagem.
– Qual foi a melhor parte dessa aventura? A experiência, as pessoas que conhecemos, as realidades diferentes que vivenciamos, tudo isso foi muito especial. Mas os melhores momentos, sem dúvida, foram os 3 meses que passamos no Sudeste Asiático.
– E a pior?
Em 220 dias, tivemos pouquíssimos momentos difíceis. Mas o pior foi quando passei 10 dias muito doente com uma infecção intestinal nas Filipinas. Só fiquei bem depois de ir ao médico e fazer tratamento com antibiótico.
– Quantos amigos vocês fizeram pelo caminho? O que você diria pra alguém que está pensando em fazer essa viagem, mas tem medo de ir sozinho?
É engraçado que quando estamos viajando somos mais abertos a fazer amizades e experimentar novas experiências. Também tudo que acontece é de forma mais intensa. Às vezes, você acabou de conhecer uma pessoa e parece que é um amigo da vida toda. Tivemos muitos bons momentos com amigos que fizemos na estrada. Alguns poucos realmente ficaram e mantemos contato até hoje. Essas são pessoas muito especiais por quem temos muito carinho.
Quanto a viajar sozinho, eu mesma não sei se teria coragem. É um desafio muito maior. Mas acredito que quem viaja sozinho passa mais tempo acompanhado do que só. Além do mais é uma oportunidade maior de auto conhecimento.
– E como é viajar a dois, 24h juntos? Não rola alguma briguinha? Dicas pra se dar bem com o parceiro de viagem?
Acho que eu não seria capaz de fazer a volta ao mundo sozinha. A presença do Fred foi fundamental para que esse sonho acontecesse. Eu sou pessoa do planejamento e ele da execução. Mas viajar acompanhado exige paciência redobrada, toda decisão tem que ser tomada juntos e, claro, nem sempre as duas pessoas têm o mesmo pensamento.
A maior parte do tempo foi tudo bem, mas tinha dias realmente difíceis. Já tínhamos 10 anos de relacionamento, mas nesses 7 meses foi tudo muito mais intenso. Muitos lugares e experiências não fariam sentido ou teria menos graça se não estivesse com ele. Mas é preciso ter paciência e alguém tem que ceder de vez em quando.
– Na Austrália vocês alugaram uma van, como foi isso? Valeu a pena? Quais são as vantagens e desvantagens de viajar assim?
Viajar de campervan foi uma das partes mais divertidas da viagem. Era a vida hippie, como eu chamava. Para mim dava uma sensação de liberdade, poder parar onde quiséssemos, fazer o caminho do nosso jeito. Acho esse estilo de viagem muito legal e na Austrália é muito forte e seguro. Pena que no Brasil não é comum. Adoraria fazer o mesmo aqui. O único problema é que viajamos no inverno e dormir no carro alguns dias não era muito confortável, porque fazia bastante frio. Mas para quem viaja com mais condições dá para alugar uns motor homes muito legais, quase uma casa de rodas mesmo.
– Questão de orçamento, quanto vocês gastaram em média por dia? E quanto vocês gastaram no total nessa viagem? Dicas pra economizar?
Perdi o bloquinho com as anotações de gasto que tínhamos durante a viagem, por isso, não tenho os valores exatos. Mas calculamos que investimos em média R$ 60 mil para os dois em 7 meses. Só para ter ideia, na nossa festa de casamento que fizemos quatro anos antes e, sem muitos luxos, gastamos metade disso em um único dia.
Tentamos fazer a média de 45 dólares por pessoa ao dia. Em alguns países gastávamos bem menos e em outros muito mais. A dica principal é saber fazer esse balanço e realmente ter disciplina. O ideal é investir em experiências, por exemplo, passeios que só existem naqueles lugares e economizar em hospedagem, alimentação, transporte e gastos supérfluos.
E pra quem ficou com vontade de mais. Uma “rapidinha” com a Karla:
A melhor comida – a de uma barqueiro, num passeio que fizemos nas Filipinas, que preparou um peixe fresco na brasa. Mas tenho muitas saudades do Tim Tam (biscoito) da Austrália!
A paisagem que te tirou o fôlego – difícil escolher só uma… Port Barton, nas Filipinas; Bagan, em Myanmar; a Muralha da China; o Grand Canyon, nos EUA, e a Acrópolis, em Atenas.
O momento mais emocionante – realmente me emocionei na Acrópolis. Eu estava no lugar que sempre sonhei conhecer.
O melhor aprendizado – é o respeito e a quebra de preconceitos. Você conhece tantas realidades e pessoas diferentes que entende de uma vez por todas que é isso que faz o mundo e o ser humano mais especial.
Chorei quando – feito criança na véspera da volta para casa. Não queria que aquele sonho tivesse fim.
Só me arrependo de – não ter economizado mais para viajar por mais tempo.
Nunca deixo de levar na minha mochila – passaporte, câmera fotográfica e dinheiro/cartão de crédito.
Quem quiser conferir mais sobre a viagem da Karla e do Fred tem vários post como esses: 7 conselhos pra quem quer dar uma volta ao mundo
O vídeo dessa aventura
As dores e as delícias de viajar a dois
Um dia eu de ter um amor e ei de ter coragem pra fazer o mesmo…
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