Este post da série “Volta ao mundo em 12 blogs” traz as aventuras de um ex-advogado que decidiu largar a profissão para dar uma enorme volta pelo mundo e se conectar com o que mais gosta de fazer; conhecer outras culturas e compartilhar conhecimento. O Arthur Simões, do blog Extremos, conheceu nada menos do que 46 países, durante 3 anos e 2 meses de viagem.
A melhor parte é que ele fez tudo isso de bicicleta! “Não tem como fechar as janelas quando se está numa bicicleta. Você nunca está separado do mundo, você percebe que é parte dele”, diz. Foram 40 mil quilômetros pedalados, 15 pneus trocados e muitas histórias guardadas na mochila.
Além de ser uma baita aventura, essa viagem também serviu como projeto educativo para ajudar estudantes brasileiros. Durante o percursso, o Arthur escreveu o site Pedal na Estrada e compartilhou suas descobertas com milhões de alunos.
Quem quiser saber mais sobre essa baita experiência, pode ler “O mundo ao lado”, livro que ele escreveu contando tudo o que vivenciou durante essa viagem. Aqui no blog, esse viajante incansável conta detalhes da preparação, os momentos difíceis, e também fala sobre o projeto Pedal na estrada. Espero que vocês curtam essa experiência incrível, tanto como eu!
Como surgiu essa ideia de dar uma volta ao mundo e por que viajar de bicicleta?
Eu fui especialmente movido pela curiosidade de conhecer o mundo e de me observar através dos olhos de outras culturas. A vida de advogado que eu tinha era muito previsível e ligada a valores bastante superficiais, muitas vezes distantes daquela justiça que eu idealizava durante a faculdade. Aos vinte e poucos anos notei que não conseguia me ver como advogado aos quarenta, e iniciei um intenso processo de mudança, focando justamente naquilo que eu mais gostava de fazer. Eu sabia que se me dedicasse àquilo que mais amava, nada poderia sair errado.
A escolha da bicicleta foi natural, pedalo desde criança e já tinha feito várias viagens sobre duas rodas. Além disso, a bicicleta é a melhor forma de humanizar uma viagem. Ela te coloca num ritmo mais humano, no qual o corpo e a mente conseguem assimilar tudo aquilo que está ao seu redor. Não tem como fechar as janelas quando se está numa bicicleta. Você nunca está separado do mundo, você percebe que é parte dele. Essa característica me fazia entrar em cada cultura e vive-la por um período, o que tornava minha experiência única e muito valiosa.
Quanto tempo você foi parando em cada lugar e como escolhia o próximo destino?
Eu me tornei um nômade durante essa viagem e cada dia estava num lugar diferente. A única certeza que eu tinha era de que tudo estava em constante movimento e não adiantava me apegar a nada durante o caminho. Acordava cedo, me alongava, tomava um café da manhã reforçado, desmontava a barraca, guardava tudo nos alforjes, montava as bolsas na bicicleta e seguia viajando. Passava cerca de 8 a 10 horas na estrada todos os dias, e no final do dia buscava algo para comer e um lugar para dormir, que podia ser na minha barraca, na casa de alguém ou em alguma hospedagem.
As vezes ficava por mais dias num local que eu gostava, até para descansar o corpo e conhecer melhor determinada cultura, mas, via de regra, estava sempre em movimento.
Apesar de ter saído do Brasil com um roteiro muito detalhado, eu sabia que a viagem era algo vivo que não podia ficar presa a um roteiro. Assim, sempre fazia alterações no roteiro conforme minha necessidade ou vontade. Os números iniciais e finais do projeto refletem isso. Inicialmente, tinha o plano de passar por 28 países em 2 anos e meio. No final, havia passado por 46 países em 3 anos e 2 meses de viagem.
Teve lugares nos quais que você quis ficar mais tempo e por que?
Sim, muitos. O mundo é imenso e repleto de segredos e encantos. Nos lugares onde isso era mais perceptível e acessível, sentia que queria passar mais tempo ali até para aprender e absorver mais daquela cultura. Muitas vezes conseguia prolongar minha estadia por mais alguns dias, para aprofundar minha vivência naquele local, mas, por conta de vistos e outras limitações, nem sempre isso era possível.
Quais foram os momentos mais difíceis durante essa aventura?
Apesar de uma viagem como esta estar recheada de desafios físicos, os momentos mais difíceis surgiam quando eu ficava doente e quando passava dias em lugares muito isolados, sem contato com ninguém. Sentir que seu corpo não responde mais ou saber que não há ninguém em quem se possa contar quando se está no outro lado do mundo, nem sempre é fácil.
Em algum momento você pensou em abandonar a viagem? Três anos é muito tempo, não?
Nunca pensei em abandonar a viagem, pelo contrário, ao final dela ainda queria viajar muito mais. Houve momentos difíceis, nos quais até pensei em fazer uma pausa na viagem para solucionar alguns problemas de saúde que surgiram, mas nem isso eu fiz. O Pedal na Estrada seguiu durante 3 anos e 2 meses de forma contínua.
Como você fez com acomodação? Ficou hospedado em hostel, hotel, casa de amigos?
Um dos objetivos do projeto era o mergulho nas culturas por onde eu passava, isso fazia com que eu procurasse ficar na casa da população local na maioria das vezes. Muitas vezes conseguia, outras vezes não. Quando não era possível, ficava em albergues, hospedagens ou acampado em algum lugar mais retirado.
Todo mundo acha que pra dar uma volta ao mundo precisa muito dinheiro. Você viajou durante 3 anos, foi a falência? Como você se financiou durante esse período? Trabalhou, fez bicos?
O Pedal na Estrada foi um projeto patrocinado por algumas empresas, assim consegui o subsídio que precisava para realizar a viagem sem grandes interrupções, como acontece quando há necessidade de trabalhar pelo caminho.
O custo de uma viagem de bicicleta pode variar bastante, mas costuma não ser muito alto, já que a pessoa não gasta com transporte ou combustível. Os gastos costumam girar em torno de hospedagem, alimentação e manutenção do equipamento, o que varia muito de pessoa para pessoa. Quem opta por acampar e preparar sua própria comida, economiza mais ainda.
No teu site você fala que fez vários projetos educativos. Como foi isso? De que maneira os alunos brasileiros puderam se “beneficiar” da tua viagem? Como foi esse repasso de conhecimento?
A base do Pedal na Estrada era um projeto educacional, para repassar as informações sobre as culturas e tradições dos locais por onde eu passava para os estudantes brasileiros. Tudo de forma gratuita e livre. Com isso eu oferecia uma alternativa de ensino aos estudantes brasileiros.
De certa forma, foi uma crítica ao sistema educacional defasado do Brasil. Através da viagem de volta ao mundo e de uma atividade esportiva, busquei mostrar para os estudantes que era possível aprender de uma forma diferente, mais natural, informal e interativa, capaz de despertar o interesse e a vontade de aprender em cada estudante.
Com esse objetivo percorri diversas culturas, sempre atualizando o site do projeto, o Pedal na estrada, com relatos daquilo que eu via e vivia, mesclados com informações sobre cada país e cultura. Os alunos que acompanhavam aquela aventura naturalmente aprendiam sobre cada país por onde eu passava. Em alguns casos eles desaprendiam também, pois meus relatos muitas vezes se opunham àquilo que estava escrito nos livros ou o que era mostrado na televisão. Assim, o senso crítico também é exercitado.
O Arthur que começou a viagem em 2006 foi o mesmo que voltou em 2009?
Aquele Arthur que saiu nunca mais voltou. A vida nômade que eu me propus a viver me fez ver o mundo e as pessoas de uma forma completamente nova, o que gerou uma mudança lenta mas consistente. A forma de encarar a vida também mudou com o tempo, assim como meu ritmo, minha conexão com a natureza e as cidades. Tanto que quando voltei pra São Paulo, eu era um estrangeiro na minha própria terra.
Contatos do Arthur:
www.arthursimoes.com.br
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@_arthursimoes
Blog: www.extremos.com.br